Educação reprovada
Ciência longe das fronteiras
Governo federal anuncia continuidade do programa de intercâmbio apenas a quem cursa pós-graduação
Carlos Queiroz -
Após quatro anos, o programa Ciência sem Fronteiras (CsF) chegou ao fim para os estudantes dos cursos de graduação, conforme anúncio do governo federal.
A decisão repercutiu no meio acadêmico, sobretudo na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que aderiu ao programa em 2012 e, desde então, enviou 545 acadêmicos de diversas áreas para diferentes países. O coordenador de Relações Internacionais da instituição, Maximiliano Cenci, avalia que a decisão desacelera o processo de internacionalização das universidades brasileiras e, consequentemente, cria barreiras para o avanço acadêmico do país.
Para Cense, a medida representa imensa redução nas oportunidades de estudo no exterior. Ressalta que o CsF foi idealizado incialmente para que estudantes brasileiros tivessem a oportunidade de estudar por períodos de até um ano em centros de excelência no exterior (universidades melhores colocadas nos rankings internacionais). A comunidade acadêmica reconhece que o programa precisava de ajustes, de definição de critérios claros de seleção de bolsistas e, sobretudo, de políticas de acompanhamento do desempenho acadêmico dos bolsistas e da absorção dos conhecimentos recebidos no exterior pelas universidades brasileiras.
Cense observa que críticas foram feitas ao tamanho do investimento e ao suposto pouco retorno que esse tipo de mobilidade acadêmica trouxe ao Brasil. No entanto, os impactos que a experiência no exterior trouxe à sociedade só serão claros em alguns anos, considerando que a maioria dos egressos do programa ainda não tiveram tempo de se consolidar no mercado de trabalho e atuar como agentes ativos de aprimoramento da realidade brasileira.
“Certamente as experiências coletadas no exterior podem ser utilizadas ativamente para propor melhoras à sociedade. Um estudante que passa por uma boa vivência em um centro de excelência acadêmica no exterior volta diferente, mais preparado para um cenário onde as fronteiras não devem ser obstáculo para o avanço da sociedade”, opina. Para ele, mesmo nesse momento de dificuldades financeiras e políticas em que a Nação se encontra não se pode deixar de criar estratégias para fortalecer um ambiente de educação internacional para os estudantes. “Além de formarmos profissionais e agentes sociais mais qualificados para modificar a realidade brasileira, ainda estamos formando profissionais mais sensíveis às diversidades sociais e culturais e mais preparados para tornar nossa sociedade mais tolerante e inclusiva”, completa.
Quem foi, foi
De acordo com a Coordenação de Relações Internacionais da Universidade (CRInter), em 2012 foram enviados 59 estudantes para fora do país, no ano seguinte 266, em 2014, 142 e em 2015, 78. Luísa Mendes Machado, 26, conquistará a graduação dia 29 deste mês em Design Gráfico pela UFPel. Considera-se uma privilegiada por ter participado do CsF. Da sua turma foram três. Ela para os Estados Unidos e as outras duas para o Canadá e a Itália. Seu período de estudos fora ocorreu de agosto de 2013 a novembro de 2014.
Luísa participou do grupo que inicialmente cursou Línguas e o primeiro semestre dela foi estudando inglês em Nova Jersey. Depois disso foi para a Universidade de Savana, onde o foco foi Design Gráfico. Descreve a experiência como a mais maravilhosa de sua vida. “Acabei meu TCC e usei referências e teorias que trouxe de lá”, conta.
Logo que retornou Luísa ministrou palestras e oficinas. Conforme ela, depois do seu grupo os estudantes se empolgaram muito e também quiseram participar do programa. “Uma experiência incrível que agora o pessoal da graduação não vai ter mais. Um programa tão bacana”, lamenta.
Educação como gasto
A pró-reitora de Graduação da UFPel, Fátima Cóssio, por meio da assessoria de comunicação da Universidade, entende que a educação passou a ser entendida como gasto que, não raro, deve ser transferido à iniciativa privada. “Esta foi a justificativa para cancelar o programa, ao lado do argumento do baixo retorno em termos de qualificação do ensino, sem, no entanto, explicitar quais critérios e dados foram utilizados para chegar a tal conclusão”, ressalta.
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